quinta-feira, 15 de março de 2012

O humor não é solidário

Por Jr. Balby

Em geral, as piadas criam polêmicas, pois, normalmente, vão de encontro a um estereótipo. Às vezes, ou quase sempre, quem é o foco se ofende. Os alvos mais tradicionais, como pretos, nordestinos, judeus, muçulmanos, protestantes, gays, transexuais, travestis, altos, magros, gordos e tantos outros representados em textos de humorísticos são "vítimas" desde que o mundo aprendeu que falar de alguém pode fazer os ouvintes rirem.
No Brasil, o fenômeno chamado "Stand up comedy" ganhou força com uma geração de jovens que fazem piadas sem personagens, sem roupas, sem maquiagem. Eles sobem ao palco e fazem seu show. E, geralmente, depois do espetáculo, eles é que estão na mira. Agora, veja: esses humoristas (e comediantes) mostram a cara limpa nos palcos e, por isso, muitas pessoas confundem, achando que o texto que disseram, fazem parte do que a "pessoa", não o ator, pensa. São ofendidos, xingados, demitidos e crucificados. Exatamente como seus textos fizeram no dia anterior. É a vingança dos estereotipados pela sociedade. Ou seja: esses humoristas também sofrem preconceito, principalmente, porque não usam trajes para eufemismos. Como um vilão de novela que apanha na rua, porque o povo não consegue perceber que ele é, apenas, um ator e, não necessariamente, pensa ou age como sua personagem.
Grandes atores consagrados sempre usaram estereótipos, por meio de personagens, para contar suas piadas e, normalmente, não eram alvos da fúria da opinião pública, tanto que estão aí até hoje, com respeito quase divino da grande massa, como os grandes Chico Anysio e Tom Cavalcante, além dos que se foram, como o saudoso Costinha. A única diferença entre as piadas que os humoristas de hoje contam e os de ontem é a roupa. Isso comprova o preconceito que humoristas como Rafinha Bastos e Danilo Gentili sofrem. É irônico, pois, assim, a caça vira caçadora.
Obviamente, a origem e os fardos da vida dizem muito sobre a reação de quem é foco e ouve uma piada. Um nordestino preto rico, que sempre teve acesso a tudo que há de melhor, não ouvirá, da mesma forma, uma piada sobre suas raízes que um nordestino preto pobre. Claro, não é regra, e, apenas como exemplo, pois a educação recebida em casa, também, influenciará no modo de ouvir. Mas é fato que, mesmo com leve incômodo, a reação será muito menos intempestiva.
É importante lembrar que existe uma diferença muito grande entre uma piada e uma ofensa: a maneira como as palavras são ditas. É um princípio básico que se deve aprender quando criança, mesmo quando se elogia uma pessoa, pois o tom da voz de quem diz é que define o tom da reação de quem ouve.
Na calçada da rua é mais difícil controlar uma suposta piada, pois, se a pessoa que ouvir não fizer parte do grupo, não vai entender que aquilo, pra esse grupo, é uma piada, logo, é uma ofensa. Até mesmo entre membros do mesmo grupo, se a maneira dita for percebida como sincera, criará problemas. É preciso o chamado "bom-senso".
Agora, no teatro ou em um show qualquer, quem estiver presente também deve ter a noção de que o humor não é solidário, pelo contrário, muitas vezes é cruel com quem não tem estômago pra digerir textos que vão de encontro ao seu eu mais profundo. Se você suspeitar que se enquadra em um estereótipo e acha que não pode aguentar uma piada, não vá a um humorístico, pois, em vez de rir, você pode chorar. Prefira os textos mais dramáticos, musicais ou monólogos sobre a vida. O bom-senso deve estar com quem diz e com quem ouve, com hora e lugar apropriados. Se existem bem poucas pessoas que sabem fazer uma boa piada, muito menos há quem saiba ouvi-las.

OBSERVAÇÃO

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