quarta-feira, 16 de maio de 2012

Sobre Pretos e Negros

(Texto: Júnior Balby) Eu sou preto e, não, negro. Negro não é cor. Raça, só uma, a humana. Todos são desta mesma raça. Até porque, raríssimos são 100% branco, amarelo, negro ou vermelho para defender uma estirpe. Quem sabe, uma minoria indígena em algum lugar por aí e só. Não se engane ao ver um cabelinho louro. A maioria dos cabelos são pintados. Quando não, no DNA, tem sempre um preto contribuindo para formar aquele indivíduo. A genética explica. O problema é que o preto tem vergonha de dizer que é preto. Negro, afrodescendente, moreno e pardo, pra quem não percebe, se faz passar por eufemismo. E, eufemismo, só se usa para suavizar aquilo que se acha ruim. E não há nada ruim em ser preto. A não ser na cabeça de quem tem preconceito, incluindo aí, o próprio preto. A última vez que tentaram "defender" uma raça, levaram no braço, aliás, nas armas. Era a chamada "Raça Ariana". Quando um preto defende o termo "raça negra", ele está, simplesmente, estimulando sentimentos de raiva, revolta, vingança e ódio. Não é respeito, ao contrário do que pensam os que dizem e os que estimulam. Exatamente como Hitler incitou o holocausto usando os mesmos artifícios: "vamos defender a nossa raça". Não é por aí. Se o preto quer respeito, que comece por si. Que venha de dentro e, verdadeiramente, pra fora. Obviamente, nem todos os pretos gostam de serem chamados de negros. Mas, quantos assumem? Quantos levantam a bandeira? É fácil levar um cartaz "100% negro" aos estádios de futebol. Afinal, como dito, negro é mais "fácil" de dizer. Talvez, ninguém vá te dar uma placa de cidadão do ano por usar uma camisa "100% preto". Mas, talvez, você ajude um pouquinho alguém a ter orgulho da cor. E as piadas? Piadas foram feitas pra rir. E piadas sempre usaram, e vão continuar usando, estereótipos. Você já viu algum preto dizendo que o seu cabelo é bom? Nunca. Todos dizem "cabelo ruim". Agora, seja branco e faça uma piada dizendo isso e alguns da "raça" vão ficar revoltados. Hora, se é ruim, é ruim porque é difícil de pentear, de lavar, e não porque é "cabelo de preto". E, quando é ruim, cabe a criatividade, tem o "rastafari" e outros cortes pra fazerem a cabeça. E que não se diga que piada de preto é diferente de piada de gay, pobre, bêbado, português, japonês e outras tantas já do folclore brasileiro. Ou você acha que japonês gosta de ser chamado de "pinto pequeno" e português de "burro"? Não gostam, mas nenhum sai processando brasileiro por fazerem piadas desse cunho. Alguns usam isso até para estimular a curiosidade. Talvez, por isso, Japão e Portugal sejam países mais avançados. Eles não se prendem a "meninices" alheias. Por lá, os estímulos são para os estudos. Mas, faça uma piada de preto como "macaco" ou "carvão"? Lá vem, de novo, a "raça" dizer que isso é ofensivo, é racismo. Então, que se faça justiça: os pretos que processarem outros por se sentirem ofendidos de serem chamados de pretos ou afins, a partir de agora, se fizerem piadas de portugueses e japoneses, também, devem ser processados por preconceito. Pronto. Ah, pretos, melindrados assim, também não podem fazer piadas de norte-americano chamando-os de "gringo", índio de "ìndio", branco de "branquelo", albino de "rosa" ou qualquer outra "estereotipização". E, se não souber o nome, deve perguntar, se tem boca pra fazer piada de "branquelo", por que não tem boca pra perguntar o nome? Ninguém é processado por chamar o vizinho de branco ou índio. Aliás, a maioria indígena tem um baita orgulho de ter esta origem. Ninguém vê a "Raça Indígena" impedindo as pessoas de chamarem seus entes de índios. São índios e pronto. Assim como deveria ser preto e pronto. Os índios também sofreram humilhações, roubaram suas terras, apanharam, foram dizimados. Mas não ficam revoltadinhos quando passa um branco e grita: "ei, índio, tudo bem?". Veja a diferença já intrínseca na sua cabeça: "ei, preto, tudo bem?". Soa mais "estranho", né? Porque disseram pra você isso. Lá atrás, avisaram pra não chamar o coleguinha de preto, porque preto é "feio". "O coleguinha se ofende". Se ofende por ser chamado daquilo que é? As crianças e jovens devem ser educados a não chamarem preto de preto quando usam em tom ofensivo. Isso, já é outra situação. Aí, cabe a educação. E educação não é repressão. Cabe a palavra, ensinar a pedir desculpas pelas ofensas, entre elas, usar tons pejorativos por uma cor, qualquer cor. Não se deveria dizer: "menino, não chame o coleguinha de preto". Deveria-se dizer: "menino, preto é uma bela cor. Você não está ofendendo ninguém". O que acha? Não é mais poético? Não é mais instrutivo?. Quando se diz pra uma criança que não se deve chamar alguém de preto, ela, na hora, vai entender que preto é uma ofensa, uma espécie de "palavrão", e, quando quiser ofender alguém, bastará chamá-lo de "preto". Mas, se você ensina a criança que preto não é ofensivo, ela vai procurar outras palavras, mas vai ter aprendido a respeitar o preto: a cor e a pessoa. Lá na frente, ela vai entender porque ensinaram assim. E, não as subestime, as crianças aprendem rápido, principalmente, as coisas erradas dos adultos.

OBSERVAÇÃO

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